vazio

sempre quis
o que já tinha,
sem saber
o que hoje sei.
hoje tenho o que quis,
mas queria querer,
também.

alma

o sol nasce para todos,
mas nem todas as almas ilumina

dedicated to No/one

passado, memória
atitude, inglória
lidar, com escória
esquecer, a Vanglória
da alma que fora massacrada.
um dia quase tudo
e agora
Quase nada
...

predicado

o dom é da escrita
e não do pensamento
porque escrever é pensar
tal como obra e criador
a escrita só pertence ao sonhador!
como o pólen está pra flor
à boleia do pássaro que é o autor
e toda a arte é pensamento
e quem não pensa é espectador


vai mesmo em prosa

quando perceberes que o sonho é realidade pega no todo e tira só metade, se essa metade for verdadeira já tas fora da trincheira e vais perceber que era só um buraco de onde não saíras por te achares fraco.
e enquanto pões balas no carregador, esse sonho nasce, e cheio de cor!

assim

já nao escrevo faz muito tempo
e nem escrever me apetece
a poesia nao é contínua
nem aquilo que parece
apenas escrevo porque sim
como se alguma vantagem trouxesse

quimera

todos são iludidos
apenas alguns optam por acreditar

não raro

Aquilo que é provável, mente

grão de merda

o melhor é o melhor
por não saber perder
o melhor ainda
é nem querer saber

tempo

o tempo tira à pressa
tempo que a pressa não tem
a pressa pede mais tempo
com o tempo que ainda tem
mas o tempo diz à pressa,

que com tempo, tudo vem

eco dos silencios

no ego da calma,
vive o eco dos silêncios 
e esses silêncios sao
o que na alma vive em vão 

quem é quem

os que acreditam em evidências 
são os que a elas estão sujeitos
neste jogo de coincidências 
somos todos suspeitos

acção vs diálogo

- Estava aqui a pensar...arranja-me um cigarro por favor.
- Estava aqui a pensar...que pensar faz-te mal

rumor

se hoje assim quis
num mar de arrependimentos,
sou como aquele que só diz
para atrair sentimentos

aquele stress

a ânsia suscita
quando a rima aparece
e a imaginação grita
o que na alma ensurdece

experiencia devida

pensamentos que a surgir
invertem as emoções 
em contextos que ao fluír
representam explicações 

dogma

uma vez escrito
já tem menos valor
uma vez dito
no instante perde a cor

escrever sem dizer
ser sem querer
fazer sem tentar
conseguir sem vingar
dizer sem pensar
sentir sem olhar
estar sem estar
correr, aprender andar

meus amigos

sabendo que ter
implica não esquecer
sob formula do meu ser
agradeço esse prazer

desacerto

errar plagia o saber
nessa tentação que sem querer
nos ensina a viver

o sentimento

a inspiração edifica
sem razão assim se explica
sem fim nem data
o sentimento enfim dilata

a mulher amada

a mulher que nunca vi
foi sempre a que mais amei
nada nela corrigi
pois dela nada sei

filosofia repensada
de intemporal mulher amada

oitava arte

dedicado a Fernando Nogueira Pessoa

numa vida não soube
o que em singulares versos coube.
e num sentimento distante,
que indolente a um dom perante,
em vida arquitectara algo a isto semelhante.

ofensa pragmática

a poesia é barata
ninguém a ensina ou aprende
muito menos quem pra isso se mata
essa ser a parte chata

nem é um ofício sequer, senão
respirar também seria uma arte
e isso ser um assunto à parte

a poesia de natural
aquieta o desigual
e a expressão ser poeta
tanta alma acarreta

sonhar ainda, sonhar não finda

sentimentos dominadores de essências
camuflados dominam as suas ausências

falsa culpa subentendida
palavra crua vem despida
vulgarmente prostituída
surge cega subtraída
ao alcance de quem esquece, proibida

fumo sem bala

o sítio onde escrevo
é um momento deserto
tudo dista com relevo
nada flui tão incerto

a um suspiro a minha alma submeto
o imaginário dilui o obsoleto

acção periférica

coloco rochas sobre o túmulo dos meus medos
faço deles tão maiores e meus segredos
finto a minha mente com o acto inerente
não sei se estou diferente, se é passado ou presente

constelação sem pontos

por estas linhas procuro
corajoso inseguro
uma réstia de ar puro
que me faça permanecer
suster a respiração e num sonho me dissolver

Existir é permanecer, Permanecer é resistir, Resistir é Sonhar

vácuo

o que pensámos mas não dissemos
mais tarde julgamos porque nao fizemos
a tentaçao essa, por lá permanece



respiro

sinto coisas que não quero
sei de outras que nem vi
desenvolvo num gesto mero
tudo aquilo que senti

suave, raro, mas veloz
o pensamento torna-se voz

delírio

escrevo entre as linhas onde as minhas palavras não cabem
sítio onde só elas ser sabem
já que sei que pouco sei em mente navego até onde falhei
penso por pensar e faço-o como quem pensa, pois compensa
é neste rés-do-chão do pensamento que agora me sento
e abstendo, procuro aquilo que sou, sendo

o norte

a maneira como existes é responsável
e a tua subtil beleza estável
não cabe em mim assim, insaciável
por ti agora existo
e no nosso amor eu persisto

admirando teus gestos veros
perco-me na tua complexidade
vigiando por caminhos meros
em ti encontro longevidade

cicatriz

escrevo com a alma de um guerreiro que se vê morrer
pensando nas coisas delas não me sei abster

dilatam, complicam, por puro prazer
preenchendo-nos ao ponto de nos enlouquecer
vivendo com elas e tentando esquecer

alteramos o nosso rumo, redesenhando um novo ser

déjà vu

amor frágil se o temos
expressões que prendemos
palavras caras que dizemos
na rotina, e esquecemos

fugazmente envelhecemos
e do porquê já nem sabemos
agora que ser jovens já não podemos
numa vida, nos revemos

inércia

a vida é uma lista inacabada daquilo que quisemos ser
é o ar que nos move, mesmo sem se ver
aquele que sempre tivemos, mesmo sem o ter

O Sonho...

Começo por nascer em todos os sítios do mundo, visto todas as raças, albergo todos os pesos e sou agora de todos os tamanhos. Sou prendado com todos os dons, e carrego também todos os defeitos. Tenho todos os vícios, até mesmo o vício de não ser viciado. Torno-me surdo, sinto-me mudo, fico cego. Percepciono todos os sentimentos que o homem conhece, e mesmo aqueles que não são denominados - e faço-o a todas as diferentes intensidades - todas as mágoas, pesadelos, e sortes. E agora sou todo o ser e toda a matéria. Vivo todos os sonhos, sonhando-os de igual forma. Dou uma volta ao mundo e conheço todos os sítios, todos os perfumes. Faço-o à velocidade da luz para sentir a velocidade do som. E num ruído me perco, como o estalar de uma lâmpada
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